domingo, fevereiro 05, 2006

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Direita, volver?
Por Izaías Almada

Conseguirá a direita política brasileira em 2006, em termos eleitorais, os objetivos traçados no segundo semestre de 2005? Afinal, num golpe inteligente e com o apoio da imprensa venal e antipatriótica, conseguiu transferir para o Partido dos Trabalhadores, com respingos por toda a esquerda, aquilo que sempre foi um apanágio seu: a corrupção. Ou alguém tem dúvida de como se elegem os políticos brasileiros há 116 anos, tomando-se a Proclamação da República como marco histórico referencial. No exercício do poder a qualquer preço, o Caixa 2 até que chega a ser, hoje em dia, um “negócio” civilizado. É apenas uma questão de perspectiva de quem participa da farsa da democracia burguesa representativa. No sistema capitalista, quem elege é o dinheiro, o poder econômico. Ou pelo consenso ou pela corrupção, mas sempre o poder econômico. O Brasil não foge à regra. E quando tentou mudar um pouquinho a regra, deu no que deu: 1964, 1968, AI-5, prisões, censura, exílio, quase 20 anos de regime fechado.

E foi no jogo da democracia burguesa representativa que o PT deu o seu escorregão, quando resolveu jogar no mesmo diapasão dos seus adversários políticos e ideológicos, sem que grande parte de seus quadros soubesse dessa prática. E, os que sabiam, não tinham a experiência necessária para executá-la, pois se tratava de um jogo de malandros de alta classe. Basta citar o nome de alguns jogadores históricos: Moisés Lupion, Adhemar de Barros, Antonio Carlos Magalhães, Collor de Melo, Inocêncio de Oliveira, Jorge Bornhausen, Paulo Maluf, Daniel Dantas, Assis Chateaubriand, Roberto Civita, e fiquemos por aqui, pois seriam necessárias várias páginas para se nomear toda a patota. Mas nem tudo está perdido.

A direita brasileira que, infelizmente, não precisa fazer muita força para ir obtendo suas vitórias aqui e ali, fechou o cerco em 2005 e vai fazendo seus estragos em meio a uma esquerda atordoada, confusa, por vezes indiferente, apática, amorfa e que vê o circo pegar fogo, mas como boa avestruz que é, enfia a cabeça no buraco e espera para ver o que vai dar. O poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht já escreveu sobre situação parecida, quando os nazistas começaram a mostrar à sociedade alemã e ao mundo do que eram capazes. A intensidade do mal pode não ser a mesma, as realidades diferentes, mas 2006 pode terminar com uma vitória política dos antipatriotas escondidos dentro e por detrás das siglas do PFL e do PSDB e outras menos votadas. E isso é danoso para o país e para a América Latina. E mais uma vez com a colaboração da ultra-esquerda purista, que coloca a teoria das teses revolucionárias acima das possibilidades práticas de avanço do movimento popular, das conquistas do dia-a-dia.

O desrespeito às leis e aos princípios democráticos vai sendo acumulado no dia-a-dia das inconsistentes CPIs ou, o que é grave, propõe-se a criação de leis discriminatórias e fascistas, como a da CPI mista da Terra, quando - no relatório final - recomendou-se a criminalização dos sem-terra, qualificando a invasão das terras improdutivas, muitas delas griladas, é bom lembrar, como “crime hediondo e ato de terrorismo”, além de sugerir a prisão de líderes do MST, como João Pedro Stédile, Gilmar Mauro, José Rainha...

Ameaças de “surra” no presidente da República, ofensas de parlamentares da oposição ao Poder Judiciário, senadores e deputados a fazer o papel de policiais, ameaças, achincalhamentos pessoais, tudo sob uma cobertura midiática planejada e insistente, cujo principal escopo é lançar a confusão, confundir os brasileiros com meias verdades e mentiras, para não se distinguir umas das outras, atropelar decisões da Justiça, esconder evasão ilegal de divisas para o exterior, incriminar sem provas, punir sem julgamentos ou direitos à defesa, desmoralizar a esquerda através de supostos delitos praticados por membros do PT. E, já no final do ano, a imoral e desavergonhada convocação extraordinária do Congresso (dois salários para engordar a conta bancária dos pobres e íntegros congressistas) para suas jornadas de elevado interesse patriótico. O mal, aliás, já está feito, sendo possível vislumbrar um ano nada promissor em termos políticos.

Um ano eleitoral, não só no Brasil, mas em vários países da América Latina, onde a CIA e o Departamento de Estado americano já estão de olho. Ou melhor, onde já estão se movimentando, gerando intranqüilidade e espalhando muitos boatos a respeito destas eleições, uma vez que em alguns países como Bolívia, por exemplo, o voto popular não elegeu uma democracia ao gosto de Bush & Cia.. E assim como tentaram também, mais uma vez, interferir e desqualificar o processo das eleições legislativas na Venezuela em 04 de dezembro último.

Cabe aqui uma perguntinha final: nessa confusão proposital, arquitetada, de qual democracia fala a nossa oligarquia, a nossa Imprensa “livre”? É a democracia defendida pelo genocida Bush, seus gangsteres do petróleo e seus jornalistas de cabeça feita na Veja, na Folha, no Estadão? Essa que cassa um deputado sem provas? Essa que esconde os Caixa 2 em Minas, Bahia e Santa Catarina, só para ficarmos em searas do PFL e PSDB? A democracia dos jornalões e revistas anti-nacionais e fascistas? Ou ainda aquela, de Abraham Lincoln, que pressupõe o governo do povo, pelo povo e para o povo? E mesmo essa já se transformou numa ficção que se tenta vender há mais de um século, pois no capitalismo, insisto, o poder emana do dinheiro e não do povo. Pode-se falar em soberania e poder popular no Brasil, por exemplo? Digam isso ao ACM, ao Bornhausen, ao FHC, ao patrão dele, o Henry Kissinger, ao Virgílio não sei das quantas, aos ruralistas da UDR... aos mafiosos de Miami. Eles vão morrer de rir na nossa cara.

Izaías Almada, é escritor e dramaturgo

http://www.novae.inf.br/pensadores/direita_volver.htm

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